quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Análise da música - Se eu fosse teu patrão

Análise da música de Chico Buarque - Se eu fosse teu patrão

Eu te adivinhava
E te cobiçava
E, te arrematava em leilão
Te ferrava a boca, morena
Se eu fosse o teu patrão
Aí, eu tratava
Como uma escrava
Aí, eu não te dava perdão
Te rasgava a roupa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu te encarcerava
Te acorrentava
Te atava ao pé do fogão
Não te dava sopa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu encurralava
Te dominava
Te violava no chão
Te deixava rota, morena
Se eu fosse o teu patrão
Quando tu quebrava
E tu desmontava
E tu não prestava mais não
Eu comprava outra, morena
Se eu fosse o teu patrão
coro feminino):
Pois eu te pagava direito
Soldo de cidadão
Punha uma medalha em teu peito
Se eu fosse o teu patrão
O tempo passava sereno
E sem reclamação
Tu nem reparava, moreno
Na tua maldição
E tu só pegava veneno
Beijando a minha mão
Ódio te abrandava, moreno
Ódio do teu irmão
Teu filho pegava gangrena
Raiva, peste e sezão
Cólera na tua morena
E tu não chiava não
Eu te dava café pequeno
E manteiga no pão
Depois te afagava, moreno
Como se afaga um cão
Eu sempre te dava esperança
D'um futuro bão
Tu me idolatrava, criança
Seu eu fosse o teu patrão
Mas se tu cuspisse no prato
Onde comeu feijão
Eu fechava o teu sindicato
Se eu fosse o teu patrão


A letra da música “Se eu fosse teu patrão”, escrita pelo cantor e compositor Chico Buarque de Holanda também faz também uma referência ao período colonial brasileiro, assim como a outra canção analisada anteriormente.
Pode ser analisada a partir das obras de Caio Prado Júnior e Gilberto Freyre, além de outros autores.
Os autores citados fazem referências ao tratamento destinado às mulheres na exploração no período colonial, sendo que qualquer ato que o escravo cometesse que fosse considerada infração eram vítimas de severos castigos físicos.
No que tange à mulher, como aborda no conteúdo da música por completo, as mesmas, além de castigos físicos, eram vítimas de abusos sexuais. Um grande exemplo do trabalho escravo na zona rural é a utilização da mão-de-obra dos negros cativos nas regiões açucareiras.
A música representa uma espécie de fetiche de dominação sexual, mas que tem por detrás uma submissão de fato.
Freyre expõe uma análise detalhada no livro casa Grande & Senzala, sobre o papel feminino; as mulheres brancas são dadas como submissas, embora fiquem evidenciadas manifestações de seu poder o que é relevado, por exemplo, nos maus tratos infligidos às escravas suspeitas de atrair a atenção de seus maridos. O escritor ressalta ainda que,

“(...) Nunca numa sociedade aparentemente européia, os homens foram tão sós no seu esforço, como os nossos no tempo do Império; nem tão unilaterais na sua obra política, literária, científica. Unilaterais pela (...) falta de mulher (...) colaboradora do marido, do filho, do irmão, do amante (...)”

Assim Freyre expõe que no período colonial, a cidadania foi negada à quase totalidade da população; porém, os mais afetados foram os escravos negros provenientes do continente africano. A condição da mulher brasileira era extremamente inferior que sua posição na escala social. As relações entre os homens e as mulheres e a conseqüente posição da mulher na família e na sociedade constituem parte de um sistema de dominação mais amplo.
Caio Prado Junior faz a mesma análise alegando que a situação da mulher no Brasil colonial era de extrema opressão social, econômica ou familiar.
Assim sendo, é perceptível que tantos as obras dos autores citados em relação à análise da canção de Chico Buarque estão bem co-relacionadas à situação de discriminação pela qual a mulher brasileira tem sofrido historicamente.


WÉLLIA PIMENTEL SANTOS

ANÁLISE DA CANÇÃO DE CHICO BUARQUE - VAI PASSAR

Vai Passar

Vai passar nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais
Num tempo página infeliz da nossa história,
passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia a nossa pátria mãe tão distraída
sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
Seus filhos erravam cegos pelo continente,
levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval,
o carnaval, o carnaval
Vai passar, palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
e os pigmeus do boulevard
Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade até o dia clarear
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral... vai passar



A letra da música Vai Passar do cantor e compositor Chico Buarque de Holanda, foi escrita em meados da década de 80, num período conturbado da história brasileira que foi o fim da ditadura militar.
A obra pode ser associada especialmente aos seguintes autores debatidos em sala, sendo eles: Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Joaquim Nabuco.
A letra faz uma crítica veemente ao Estado e ao período colonial brasileiro. Faz um enredo sobre a história do Brasil desde tal período com o “descobrimento” do Brasil até a ditadura militar em 1984.  
Analisando trechos da letra, especificamente nos trechos: “Que aqui sangraram pelos nossos pés, que aqui sambaram nossos ancestrais, num tempo página infeliz da nossa história...” é perceptível que o cantor faz uma referência ao período da escravidão vivenciada no Brasil, no qual narram os autores citados, especialmente Caio Prado Júnior e Joaquim Nabuco que fazem um retrospecto ao período colonial brasileiro, tal página infeliz, como expõe a música seria o período da escravidão, com a exploração da mão-de-obra escrava pelos portugueses. Na parte da música: “levavam pedras feito penitentes, erguendo estranhas catedrais” pode se referir a imposição ao negro de uma cultura não vivenciada por eles, sendo imposta pelos portugueses. Joaquim Nabuco analisou que em nossa sociedade “O negro construiu um país para outros; o negro construiu um país para brancos”. Mas, ”um dia, afinal, tinham direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia que se chamava carnaval”. O samba pode ser considerada a representação da cultura negra, uma expressão artística, o estilo musical dessa categoria marginalizada.
Na parte da música: “palmas pra ala dos barões famintos, o bloco do napoleões retintos e os pigmeus do boulevard” demonstra uma crítica aos colonos, a elite portuguesa e quem mantinha o poder na época. Assim, a letra da música se mescla entre o período colonial brasileiro e com o período de opressão da ditadura militar, A liberdade obtida tanto pela alforria da escravatura quanto pelo período pós-ditadura, como exposto no seguinte trecho da música: “Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar a evolução da liberdade até o dia clarear”. “Dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações”. Caio Prado, assim como os outros autores citados relatam a relação de exploração de Portugal e Inglaterra, onde quem, literalmente, pagou os prejuízos da dívida portuguesa foi o Brasil.
O autor Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil aborda aspectos centrais da história da cultura brasileira que estão intrinsecas a letra da musica citada, haja vista, sobretudo, a importância do legado cultural da colonização portuguesa do Brasil, junto com "Casa-Grande & Senzala", de Gilberto Freire e "Formação do Brasil Contemporâneo”, de Caio Prado Jr. são obras consideradas excêntricas para a compreensão da verdadeira história do processo de formação da sociedade até os nossos dias atuais.


WÉLLIA PIMENTEL SANTOS

FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO - CAIO PRADO JÚNIOR

O livro Formação do Brasil Contemporâneo de Caio Prado Júnior faz um retrospecto no período de colonização do Brasil. O livro está dividido em cinco partes principais, sendo elas:

1. Introdução – texto único;
2. Sentido da Colonização – texto único;
3. Povoamento – subdividido em quatro capítulos;
4. Vida Material – subdividido em nove capítulos;
5. Vida Social – subdividido em três capítulos.

 Em linhas gerais o autor expõe no livro “Formação do Brasil Contemporâneo” de forma clara e contundente que o sentido da colonização é nada mais que fornecer bens agrícolas tropicais para serem comercializados no exterior. Os argumentos desenvolvidos na obra complementam e remetem ao capítulo, “O sentido da colonização”.
O sentido da colonização estaria nos três séculos de exploração metropolitana, nos fins mercantis e no povoamento necessário para a organização de gêneros tropicais rentáveis para o comércio.
 A colonização do Brasil fez surgir uma sociedade original, baseada numa empresa do colono branco, de caráter mercantil, para produção de gêneros de grande valor comercial, com trabalho de indígenas ou negros africanos.
Toda a sociedade e suas forças foram moldadas, ao longo da colonização, para atender a tal objetivo metropolitano. Constituindo, portanto uma sociedade voltada para o mercado externo, com bases sociais internas frágeis como explicita o autor quando relata o processo de estruturação da sociedade brasileira até se chegar à nossa atual sociedade.
Nas palavras de Caio Prado, não se tratava de organizar uma colonização de povoamento e sim “a produção de gêneros que interessavam o seu comércio”.

“Tudo que se passa são incidentes da imensa empresa comercial a que se dedicam os países da Europa a partir do séc. XV, e que lhes alargará o horizonte pelo Oceano afora. Não têm outro caráter a exploração da costa africana e o descobrimento e colonização das Ilhas pelos portugueses, o roteiro das Índias, o descobrimento da América, a exploração e ocupação de seus vários setores”.  (pag. 20-21)

O conjunto sobre o pensamento da obra de Caio Prado sobre o período colonial é fundamental e para muitos críticos de sua obra se constitui a base de uma interpretação marxista que propõe uma nova visão de História.
Nossa História colonial desenvolve-se em função disso; ou seja, a História do Brasil é a História da produção de bens materiais para o consumo externo. Na obra Formação do Brasil Contemporâneo está presente o materialismo histórico, uma das mais fabulosas teorias de Marx.
O Materialismo Histórico considera a produção dos bens materiais necessários à existência dos homens – a estrutura econômica da sociedade – como a força principal que determina toda a vida social humana e condiciona a transição de um regime social a outro. (Marx, K. 1978)
Dessa forma, a História nasce da constante relação homem-natureza, envolvendo a produção dos recursos necessários para a satisfação das suas necessidades.
O autor pode ser considerado original para muitos historiadores, no que tange a análise da abordagem brasileira. Ele entendeu um problema grave advindo da nossa situação colonial. De tal modo Prado faz uma análise em seu livro sobre forças orgânicas e inorgânicas, sendo que as forcas consideradas orgânicas ao sistema são as forças ligadas ao latifúndio a grande propriedade e a escravidão. Já as forças que deveriam portar a construção da nação são inorgânicas ao sistema.
Assim sendo, é perceptível que o autor não pode ser visto como um marxista ou comunista igual aos outros pensadores de seu tempo, ele tem características marcantes, haja vista que a idéia dos conceitos que ele trabalha, que ele define relações, quando estuda a história do Brasil, só pode ser apanhada em sua processualidade histórica.
A visão geral acerca do Brasil e da superação no sentido da colonização que  Caio Prado oferece é extremamente atual. Não cabe apenas dialogar com a própria obra em relação ao período colonial que é sem duvida brilhante justamente no que se baseia na visão materialista dialética da nossa própria realidade.
A colonização não ocorre espontaneamente ou naturalmente, mas com base em sua obra fica mais nítido vislumbrar de uma forma mais crítica que o período colonial é um momento da história do Brasil relacionada aos Grandes Descobrimentos Marítimos, que se encaixa por sua vez na história do comércio europeu (que representa um contexto de análise maior). Todas as políticas conquistadoras e colonizadoras dessa época têm em comum o caráter comercial: é sempre desejando o tráfico de mercadorias.
Deste modo Caio Prado conseguiu mostrar com muita profundidade os limites que as classes dirigentes impuseram para o desenvolvimento do Brasil enquanto nação.


“O senhor de engenho ou o fazendeiro seria um “explorador, o empresário do grande negócio, o dirigente, e, sendo eles das primeiras levas, são de origem ‘nobre ou fidalga’.”Dado a falta de braços e a não emigração, o trabalho escravo tornou-se necessário. (PRADO JR., 1994, p. 144) A partir desses componentes desbrava-se o solo e instala-se nele o aparelhamento
material necessário, e com isto se organiza a produção”. (PRADO JR., 1994, p. 119-122)

É necessário analisar que a situação de servidão involuntária e a existência da escravidão no nosso período colonial impediram o florescimento de uma produção capitalista, que é caracterizada por muitos autores que fazem críticas ao pensamento de Caio Prado no que tange a sua condição de marxista ou comunista, assim o autor esclarece,

“A transformação do latifúndio feudal em exploração capitalista só teria sentido na Europa e na Rússia czarista, onde o senhor perde privilégios e se torna mero proprietário, condição peculiar que coadunará os interesses da burguesia e dos camponeses na disputa pela propriedade. Substituísse o senhor feudal pelo camponês capitalista. Isso seria Reforma Agrária como parte de uma revolução democrático-burguesa.” (PRADO, 1994, p. 59)


Assim é indispensável se ter em vista que como condição necessária e imprescindível para um sistema capitalista é necessária a existência de mão-de-obra assalariada, ou seja, trabalhadores formalmente livres, o que não houve durante esse período, como assim exposto em seu livro:

“Assentado em grandes propriedades, na monocultura e no trabalho escravo, do ponto de vista internacional, a colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial destinada a explorar recursos naturais. “[...] nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, [...]; mais tarde ouro e diamantes; depois algodão, e em seguida café para o comércio europeu.” (PRADO JR., 1961,p. 252-256)


Toda a acumulação realizada nesses países, em especial Portugal em relação ao período de exploração da colônia foi primitiva e não capitalista. Alguns autores apontam e a conceituam como co-relacionada ao período feudal.

A formação colonial era pré-capitalista com elementos feudais, a escravidão era uma revitalização da Antiguidade Clássica e da Idade Média, sem terem sido extintas até o século XVII. A estrutura social foi estamental, onde, seguindo a analogia do corpo, a cabeça era composta pelos senhores de engenho, fazendeiros e prelados, os braços armados, pelos feitores e toda organização repressiva mantenedora da ordem social, e a mãode-obra era composta de escravos e homens de ofício (artesãos, mecânicos, etc.). O poder nascia mais da terra do que do mercado, as relações eram mais políticas e de violência armada do que monetária (econômica). Os portugueses eram mais aventureiros, traficantes e senhores soberanos estamentais de terra do que empresários, dirigentes e empreendedores comerciais ou capitalistas. (Hirano,1989, p. 256)


O passado colonial do Brasil, cuja razão de ser era a produção em larga escala visando o mercado externo, com sua necessária dependência do trabalho escravo está profundamente impresso nas instituições econômicas, políticas e sociais de hoje. A sociedade era essencialmente agrária e acima de tudo o que caracteriza a sociedade brasileira de princípios do século XIX, é a escravidão.
O autor ressalta que durante esse período a classe explorada mantinha suas necessidades básicas minimamente, sendo que a vida social se restringia às festas religiosas. O alto lucro que gerava levou à prática do tráfico de escravos africanos. Em relação à constituição do povo brasileiro, Caio Prado aponta três “raças”: brancos, indígenas e os negros africanos.
Dentre os objetivos que o autor ressalta sobre a administração da Coroa, seriam o de acompanhar e auxiliar o desempenho das capitanias, estimular posteriormente o desenvolvimento da produção de cana de açúcar, sendo uma de suas prioridades econômicas após a queda da exploração do ouro e diamante.
A indústria açucareira colonial, sem algum tipo de tecnologia era estruturada em sistema de latifúndios, num regime de monocultura, movido essencialmente por mão-de-obra escrava, sendo que esta era a predominante, tendo-se em vista que inicialmente os escravizados eram os indígenas para posteriormente ser composta pelos escravos de origem africana.
O autor cita a necessidade da Coroa no povoamento, fundando vilas. Cita ainda que como resultado da ocupação holandesa e com o processo de formação da industrialização foi sendo necessária a criação de centros de estudos para a corte portuguesa e a aristocracia rural brasileira, surge assim ainda que timidamente uma pequena classe composta por poucos advogados no Rio de janeiro, arquitetos, médicos, pintores e teólogos que vieram para a Colônia. Aos poucos foi acontecendo o processo de urbanização da colônia, ainda com pouquíssimas as ruas que haviam calçamento.
A necessidade de independência da colônia partiu, sobretudo com diversas manifestações da sociedade que, no entanto eram reprimidas de forma violenta. Mais o autor expõe de forma subjetiva que de certa forma a Independência do Brasil começou com a vinda da família real portuguesa.
Modelada nos ideais franceses e ingleses e com influência da Constituição portuguesa, a Constituição de 1824 trazia como principais pontos um governo monárquico hereditário, o catolicismo como religião oficial imposta, a submissão da Igreja ao Estado e o voto aberto e censitário. Havia as eleições indiretas que eram compostas por eleitores das paróquias e das províncias. O poder executivo era exercido pelo Imperador e seus ministros e o judiciário era composto pelo Supremo Tribunal de Justiça. O legislativo era exercido pelo Assembléia Geral sendo que o poder moderador era exclusivo do Imperador.   Ao outorgar a constituição de 1824, D. Pedro I conseguiu descontentar todos os setores da sociedade brasileira.
Em virtude do caráter mercantil inicial, não há preocupação com o povoamento. O  objetivo é somente as atividades mercantis imediatas (comércio de produtos já existentes e de fácil obtenção, inicialmente), o que a América portuguesa não poderia proporcionar naquele momento, pois implicava em gastos em montagem de um sistema produtivo, já que o continente nada oferecia para comércio imediato.
Além disso, a Europa não possuía excesso populacional que viabilizasse a colonização. O que se tem são, inicialmente, simples feitorias que praticam escambo com indígenas e defendem a terra. O grande processo colonizador virá com a queda do comércio com as Índias e a necessidade de gerar novas fontes de riqueza. A idéia de povoar surge então da tentativa de promover atividades econômicas que gerassem lucros à Metrópole, sendo também capaz de abastecer e manter as feitorias encarregadas desse processo e defender a área. Em relação às outras nações européias, Portugal foi pioneiro nisso. Mas perdeu sua posição de maior potência colonial para ingleses e franceses, com o desenvolvimento destes nos séculos seguintes.
Corroborando o que já foi explicitado sobre o pensamento do autor “se vamos à essência da nossa formação, perceber-se-á que o país se constituiu para fornecer açúcar, tabaco e outros gêneros; ouro e diamantes; algodão e depois café para os mercados externos”. (PRADO p. 117).  Isso caracterizou a colônia ao longo de três séculos, dispondo de todas as estruturas e atividades sociais e econômicas para seu desenvolvimento.
O resultado final é que nossa sociedade e economia são moldadas em função desse sentido, o qual se prolonga e se faz notar na nossa evolução até o momento em que o livro foi escrito (1942). Como decorrência desse processo de exploração nos resta uma economia pautada na pobre e na miséria, como expõe o próprio autor:

“Numa palavra, e para sintetizar o panorama da sociedade colonial: incoerência e instabilidade no povoamento; pobreza e miséria na economia; dissolução nos costumes; inércia e corrupção nos dirigentes leigos e eclesiásticos. Neste verdadeiro descalabro, ruína em que chafurdava a colônia e sua variegada população...” (PRADO. p. 353-354)


Destarte, o sentido da colonização brasileira reflete o método de produção e organização da sociedade aí formada. O poder sempre esteve concentrado nas mãos de oligarquias rurais que mantinham seus privilégios e estrutura econômica favorável, a despeito de toda a população rejeitada e explorada pelo sistema.

“A colonização produziu seus frutos quando reuniu neste território imenso e quase deserto, em  300 anos de esforços, uma população catada em três continentes, e como ela formou bem ou mal, um conjunto social que se caracteriza e identifica por traços próprios e inconfundíveis; quando devassou a terra, explorou o território e nele instalou aquela população da Europa, caixas de açúcar, rolos de tabaco, fardos de algodão, barras de ouro e pedras preciosas...” (PRADO p. 354)


É possível se fazer uma análise histórica que o nosso sistema produtivo esteve e está sempre voltado para o mercado externo, e não para a satisfação da população interna; em poucos momentos de nossa História o povo teve uma participação política ativa, que pudesse transformar a sociedade e suas estruturas.
Passamos a sofrer a colonização inglesa, que passou a comandar o nosso funcionamento como país. E sem essa atuação do que o historiador chama como citado anteriormente de “setor inorgânico” colonial nunca constituiríamos uma nação, na visão de Caio Prado.
A obra consegue transmitir claramente uma visão crítica das origens coloniais do Brasil e do seu legado à nação. Divergindo daqueles que entendiam o período colonial em termos equivalentes ao feudalismo na Europa, Caio Prado Jr. o situa no processo de expansão ultramarina européia resultante do capitalismo mercantil.
Para Caio Prado Júnior, compreender nosso sentido é entender a realidade brasileira, sua formação e problemáticas e é isso que ele se propõe a demonstrar no decorrer da obra.

 “Quem percorre o Brasil de hoje fica muitas vezes surpreendido com aspectos que se imagina existirem nos nossos dias unicamente em livros de história; e se atentar um pouco para eles, verá que traduzem fatos profundos e não são apenas reminiscências anacrônicas”. (PRADO p. 11-12)

As conclusões sobre o passado colonial contêm as contradições latentes que se expressam quando se manifesta sobre questões políticas contemporâneas. O autor questiona criticamente a política de exploração da Coroa portuguesa que de forma racional a mesma deveria ter outro tipo de política inclusive para estimular a produção de técnica ou estimular uma maior racionalidade dos recursos naturais.



WÉLLIA PIMENTEL SANTOS

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Breve histórico do Abolicionismo no Brasil

Recentemente li um livro chamado "o Abolicionismo do escritor Joaquim Nabuco. O texto traz uma narrativa crítica sobre o processo de escravidão no Brasil. Inicia sobre a estimativa da população brasileira que até meados de 1876 era apurada em aproximadamente 12 milhões de brasileiros. No entanto a maior parte dessa população era descendente de escravos, que tinha como efeito para a população brasileira saturá-la com o sangue negro.
Assim a raça negra foi se propagando no país, se tornando a gênese do povo brasileiro. Com a mistura de raças, raça negra com a raça branca trouxeram combinações excêntricas. Posteriormente juntou-se também a raça dos aborígines. Assim tem-se três correntes distintas de sangue no país, das quais surge o povo brasileiro: o português, o africano e o indígena.
O autor expõe que no início da colonização, era descarregada no Brasil, toda a população marginalizada de Portugal. Assim, todo o território desta colônia foi distribuído entre “donatários sem meios, nem capitais, nem recursos de ordem alguma, para colonizar suas capitanias, isto é, de fato, aos jesuítas”. Conseqüentemente pelo fato da África estar “nas mãos” de Portugal, o povoamento começou pelos negros, lançando como expressa o autor, “uma ponte entre África e Brasil, povoando o território brasileiro.
Assim o autor aponta em se analisar a hipótese do Brasil ter sido “descoberto” três séculos mais tarde, supondo possíveis progressos que não houvera desde o processo de colonização pelos portugueses, tais como a exploração ruinosa do território, a decadência prematura, a exploração. A escravidão dos negros foi o duro peso da colonização da América, preço pago pela população brasileira.
Pressupõe ainda que se Portugal tivesse tido a noção de que a escravidão é um erro, devendo puni-la como crime, a história do Brasil teria sido diferente, possivelmente como colônia portuguesa, no entanto “crescendo sadia e forte.
No entanto, é difícil apontar como seria o futuro do Brasil se não tivesse acontecido da forma como o foi, o que teria sido melhor para a história do Brasil entre ser arrebatado pelos portugueses ou explorado pelos holandeses ou franceses. Assim ser explorado por africanos livres e explorado por escravos portugueses, na primeira hipótese o Brasil teria crescido uma nação robusta.
O autor aponta, ainda, que não foi a raça negra um “mau elemento” para o Brasil, mas sim essa raça reduzida ao cativeiro, que é um abismo de degradação e miséria que infelizmente faz parte da história do Brasil.
O autor chega por fim a conclusão de que a escravidão transportou da África para o Brasil mais de dois milhões de africanos, que favoreceu a fecundidade das mulheres negras, que essa população forma ao menos 2/3 da população brasileira, que durante três séculos a escravidão operou sobre milhões de indivíduos impedindo o aparecimento da família nas camadas fundamentais no país e conseqüentemente acabou criando um “ideal de pátria grosseiro”, reduzindo a procriação humana a um interesse de seus senhores, mantendo a população tratada como animais, sem garantias, vestimentas, sem pagamento de seus salários, deixando-a ser coberta por doenças e morrer ao abandono.
Acaba sua explanação analisando criticamente que a escravidão criou “uma atmosfera que nos abafa e nos envolve, e isso no mais rico e admirável domínio da Terra.  


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O MUNDO DE SOFIA

O MUNDO DE SOFIA

Ótimo livro!!! Li há uns três anos, aproveitando o blog para indicar a todos...

Sinopse: Cartas anônimas começam a chegar à caixa de correio da menina Sofia. Elas trazem perguntas sobre a existência e o entendimento da realidade. Por meio de um thriller emocionante, Gaarder conta a história da filosofia, dos pré-socráticos aos pós-modernos, de maneira acessível a todas as idades.

Wéllia Pimentel Santos

Interdiciplinaridade

Olá pessoal,

Tive oportunidade de ler um artigo de extrema relevância para reflexão nos espaços universitários da autora “Adna Cândido de Paula”, cujo tema é “Os estudos interdisciplinares e as políticas acadêmicas”.
Até então não tinha me dado conta da importância de serem realizadas discussões acerca do tema “interdisciplinaridade”.
Para esclarecer, a autora relata que interdisciplinaridade supõe um diálogo e uma troca de conhecimento, de análises, de métodos entre duas ou mais disciplinas. Ou seja, a interdisciplinaridade implica em interações e um conhecimento mútuo entre vários especialistas.
Ela cita como exemplo o curso de letras, que de acordo com o projeto REUNI (Reestruturação e expansão das universidades federais – Programa Governamental instituído pelo decreto nº. 6.096, de 24 de abril de 2004) em seu eixo central, este visa dialogar a disciplina de letras com outras disciplinas, tais como: filosofia, sociologia, psicologia, economia, política, história, geografia, direito, etc. Assim sendo, o REUNI tem por objetivo capacitar os alunos com uma formação geral e humanística, com o domínio de um saber que permita ao futuro profissional a inserção no mercado de trabalho.
Por fim a importância do texto se deve pela percepção de que a interdisciplinaridade proporcionará diversidade de opiniões, prática dialética assegurando e demonstrando que a verdade é plural e que ela quebra paradigmas e se apresenta como caminho ideal para a prática das relações entre os saberes nas pesquisas acadêmicas. 
Referências: “Os estudos interdisciplinares e as políticas acadêmicas”. (PAULA, Adna Cândido de).  


Wéllia Pimentel Santos 

Quando me amei de verdade (Charlie Chaplin)

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é...Autenticidade.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama... Amor-próprio.
Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é... Simplicidade.
Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes.
Hoje descobri a... Humildade.
Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude.
Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é... Saber viver!!!
Charles Chaplin

Leitura

"A leitura faz ao homem completo; a conversa ágil, e o escrever, preciso." (Francis Bacon)